Manifestação “Mexeu com uma, mexeu com todas. Não à cultura da violação!”

Uma semana depois da divulgação do filme de um abuso sexual num autocarro no Porto diversas associações feministas, anti-racistas, de defesa de direitos das pessoas LGBT, de imigrantes e de combate à precariedade tocaram os sinos a rebate e chamaram as gentes à rua. O manifesto era claro: “A cultura da violação é aquela que encara as mulheres como objetos sexuais e de consumo masculino. É o entendimento de que as mulheres não são seres autodeterminados e donas da sua sexualidade. (…) No país dos brandos costumes, as mulheres continuam a ser cidadãs de segunda. É contra isto que nos levantamos. Contra uma cultura que desculpabiliza a violência de género, que ignora os direitos humanos e que transforma as vítimas em culpadas.”

Centenas de pessoas responderam à chamada para dizer “Mexeu com uma, mexeu com todas. Não à cultura da violação!” convocada para Braga, Coimbra, Faro, Lisboa e Porto.
Estivemos na capital.

A estátua de Camões impunha-se, majestosa, quase 14 metros sobre o chão da praça que lhe dá nome. Sustenta-a um pedestal rodeado por oito estátuas de notáveis da história portuguesa. Todos varões.
Cá em baixo, ocupando os degraus e o largo, muitas mulheres. Também estavam homens. Mas, para variar, foram elas a falar. Partilham momentos de vida, cantam, interpelam quem passa, gritam palavras de ordem.
Não se apresentam. Não dizem o nome. Não é preciso. Cada história pessoal de violência e abuso relatada é de todas. Podia ter acontecido a qualquer uma.

Minutos depois de o manifesto ter sido lido, o microfone é aberto. A quinta pessoa a falar foi, talvez, a menos jovem. Avança decidida, passo tranquilo, óculos escuros, voz segura. Atira: «O senhor que está ali em cima, bom rapaz, e que já morreu há cerca de 500 anos, disse: “Vai formosa e não segura”. Formosas vamos sempre. Está na hora de irmos seguras, não?! Passaram 500 anos.»

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