Maria Antónia Palla sobre feminismo, jornalismo de causas e o aborto

Esta semana lançamos uma Fumaça mais longa do que é costume. Falámos com a Maria Antónia Palla, feminista emblemática, jornalista, e ativista pelos direitos das mulheres.

Em 1976, Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, tinham uma série de programas na RTP, onde faziam reportagens sobre a situação das mulheres em Portugal. Tudo seguia o seu rumo, até ao dia em que uma das peças chocou o país. Choveram críticas, ameaças, e insultos, foi instaurado um processo crime e a série cancelada. Tinham falado de aborto.

A reportagem, com o título “Aborto não é crime”, pôs Maria Antónia Palla no banco dos réus. Na altura, em Portugal, segundo as estimativas, praticavam-se cerca de 100 mil abortos por ano.

A clandestinidade das interrupções da gravidez foi-se mantendo ao longo das décadas, bem como a luta de Maria Antónia Palla pela sua despenalização. Foi apenas em 2007, que a jornalista e ativista, nascida em 1933, viu o aborto deixar de ser crime.

Durante esta conversa, que hoje lançamos excecionalmente em duas partes, falámos disto e mais um pouco. Conversámos sobre o facto de ser das poucas mulheres jornalistas antes do 25 de Abril, de quando foi censurada por escrever sobre o Maio de 68, de como lidava com a PIDE, da reportagem que fez sobre o aborto, em 1976, do seu jornalismo de causas, e de como lutou afincadamente pelos direitos das mulheres em Portugal.

Na verdade, foram histórias de uma vida a lutar pela liberdade. Poderíamos ter ficado a tarde toda a conversar. Falaríamos de muitos mais assuntos relacionados com as mulheres: como a igualdade perante a lei, a desigualdade salarial ou o papel na política e no jornalismo. Tínhamos, aliás, planeado uma conversa com perguntas sobre todos estes temas… mas fizemos apenas 6. Muitas questões ficaram no papel, outras tantas entaladas nas nossas gargantas. Deixámo-nos paralisar, num misto de receio e admiração, pelas histórias, os detalhes e a vida de Maria Antónia Palla. O tempo foi passando e só desligamos os microfones quando nos apercebemos que tínhamos ultrapassado em muito o tempo habitual das nossas conversas. Por esse motivo, lançamos hoje este episódio em duas partes.

Título atualizado a 6 de outubro de 2023, para substituir a citação “Não digo que haja um jornalismo feminino, mas há uma maneira diferente de olhar” pela indicação do tema da entrevista.

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